Archive for the ‘Poesia Francesa’ Category

Ode

Sunday, September 10th, 2017

 

 

Un Corbeau devant moi croasse,
Une ombre offusque mes regards,
Deux belettes et deux renards
Traversent l’endroit où je passe :
Les pieds faillent à mon cheval,
Mon laquais tombe du haut mal,
J’entends craqueter le tonnerre,
Un esprit se présente à moi,
J’ois Charon qui m’appelle à soi,
Je vois le centre de la terre.

 

Ce ruisseau remonte en sa source,
Un bœuf gravit sur un clocher,
Le sang coule de ce rocher,
Un aspic s’accouple d’une ourse,
Sur le haut d’une vieille tour
Un serpent déchire un vautour,
Le feu brûle dedans la glace,
Le Soleil est devenu noir,
Je vois la Lune qui va choir,
Cet arbre est sorti de sa place.

 

 

 

 

***

 

 

 

 

Crocita um corvo ao pé de mim,
Uma sombra enegrece-me o olhar,
Doninhas e raposas vão ao par
Trespassando o lugar por onde eu vim.
Já falha o bafo ao meu cavalo,
Cai numa convulsão o meu lacaio:
Ouço sob a rebentação de um raio
Como um espírito ao pé de mim
O grito de Caronte em frenesi,
E no abismo da terra eu caio.

 

Aquele rio volta ao seu percurso,
Um boi gravita sobre um campanário,
Escorre lento o sangue lapidário,
Uma víbora fode com um urso,
No cimo de uma torre muito antiga
Com o abutre a serpente enche a barriga,
O fogo brilha dentro de um glaciar,
O Sol nasceu escuro como breu
Vejo a Lua quase a tombar do céu,
A árvore mudou-se de lugar.

 

 

Théophile de Viau

Tradução de João Tomásio