Archive for December, 2017

Wednesday, December 27th, 2017

 

 

 

 

 

O SONHO EM MARCHA

 

 

 

 

20 de janeiro

 

Eu sou um desconhecido para mim mesmo. Ia para a cova sem me ter encontrado um momento sós a sós comigo. E é com dor, é com espanto e dôr, que me reconheço; é com olhos de pasmo e dor…

Tudo mudou. A sofreguidão que todos os dias da vida — sempre! sempre! — nos empurra e leva; o sentimento da vida efémera e o horror da morte — mais perto! cada vez mais perto! —; esta coisa imponderável que debalde tento deter — sem nome e a que se chama o tempo — que nos usa, a que não ouço os passos e que caminha inalterável — tudo desapareceu de vez. Respiro. E, modificada a ideia do tempo, todas as outras se alteraram profundamente. Os sentimentos não são os mesmos. A vida assenta noutras bases, a vida fica amarga.

Resta-nos a lógica e a consciência. Mas a consciência admito-a, contanto que não me embarace. A consciência que quiseres, contanto que não me amesquinhe, ou não me iluda. O único juiz sou eu. O fim da minha vida não é dominar-me, é dominar-te.

Todos temos de matar, todos temos de destruir, todos temos de deitar abaixo.

 

 

 

Raúl Brandão

Húmus