Edições em língua francesa

 

 

 

1.

 

Em tempos de profunda dissipação, o poeta japonês Ryuichi Tamura experimentou num ímpeto a sensação vertiginosa da língua. Ainda muito novo, viu a destruição da terra natal e a ruína que a sucedeu. Mais uma vez as palavras falhavam. É uma crise sem precedentes na história, uma fenda na cronologia. Mundo sem palavras foi o título dado ao conjunto de poemas publicado em 1962 e que ficou para sempre como a obra maior do poeta da “terra desolada”. Fazendo um uso ímpar dos recursos expressivos da língua para procurar transformar a realidade e o mundo, os poemas tornam-se quase sempre límpidos e incisivos como a forma mais perfurante do haiku ou do esplendor nítido do imagismo.

Agora na primeira tradução francesa, por Karine Marcelle Arneodo, a edição bilingue publicada pela La Barque é um dos pontos altos entre as obras clássicas que nos chegam do Japão. Para além da obra que dá o título a esta edição – Le monde sans les mots (1962) – o livro contém ainda Quatre mille jours et nuits (Quatro mil dias e noites, 1956) e Pensée verte (Pensamento verde, 1967), aos quais ainda se acrescentou dois poemas publicados em 1966: «Matière putrescible» (Matéria putrescível)  e «Étude de la peur» (Estudo do medo).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Le monde sans les mots

de TAMURA Ryûichi

Tradução de Karine Marcelle Arneodo

Éditions La Barque, 2020

 

 

 

2.

 

Do terror do silêncio e da crise do homem com a história e com a língua passamos a uma reflexão sobre a leitura e a figura do leitor. É este o problema que Siegfried Plümper-Hüttenbrink decide enfrentar em Jeux de lecture (Lesespiele), obra saída agora do prelo de Éric Pesty e que reúne num único volume os artigos De la littéralité (1997), De la lecture selon Walter Benjamin et Ludwig Wittgenstein (2006), e ainda o texto inédito que dá o nome à edição, esse jogo de leitura, num modo fragmentário, que procura reconstituir uma montagem do processo de leitura e do próprio leitor. Eis uma luta que germina entre observador e objecto da qual surgirá talvez uma realidade transformada, uma realidade que é também esse Sprachspiele, uma inevitável contingência.

« Le lecteur que je suis, et tente de suivre à la trace, n’a rien d’un érudit. Il aurait plutôt tendance à n’être qu’une ombre passante et qui divague un peu trop à sa guise.
S’il lit, c’est toujours pour s’égarer dans des jeux de lecture qui l’amènent immanquablement à douter de l’existence de sa propre personne de lecteur. Aussi est-il en droit de se demander s’il a vraiment lu ou seulement cru lire ?»

 

 

Jeux de lecture (Lesespiele)

de Siegfried Plümper-Hüttenbrink

Éric Pesty Éditeur

 

 

 

 

 

3.

 

Jean Starobinski, que nos deixou em Março de 2019, volta numa nova e bela edição da sua Histoire de la médecine: obra clássica, que funde com grande sensibilidade e coerência várias áreas do conhecimento – filosofia, medicina, literatura, ciências naturais, história, etc. – procurando ensaiar não só uma descrição histórica detalhada, com erudição e grande profundidade filosófica, da medicina, mas também uma antropologia que procura entender o que é o ser humano, a busca pela saúde e a eliminação da morte natural.

 

 

Histoire de la médecine

de Jean Starobinski

Edição por Vincent Barras

Éd. Héros-Limite

 

 

 

 

 

 

4.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Écriture Première

de Stéphane Lambert

La Lettre Volée

 

 

 

 

 

5.

 

 

 

 

 

Henri Droguet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Grandeur nature

de Henri Droguet

Rehauts

 

 

 

 

 

 

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