Como quem não quer a coisa
2
De percursos umbilicais está a literatura cheia: viagens ao fundo da noite, martírios debaixo do vulcão, cervejas no inferno, baladas em cafés tristes. Ficam-se uns por aí, só caso exclusivo de escreventes, de fora os outros de terem alguma coisa com isso. Mais verdade da autêntica escarrada, menos snif-snif sofridamente dedilhado, é arroto ou flatulência, narcisismo impróprio para consumo ou masoquismo a ver se cola – feita a soma coisa aquém do acto vivencial orgânico e do seu reflexo no para lá do espelho retórico que é o universal poético para quem sabe e gosta.
Não há morte de poesia. Fica é um gemer de almas fadistas basto incomodativo para orelhas isentas de imposto.
Eduardo Guerra Carneiro
Como quem não quer a coisa
& etc, 1978